No Brasil

Em 1946, chegou ao Rio de Janeiro o publicitário americano Herbert Leroy Daugherty (Herb (#)), com um contrato de três anos para trabalhar como diretor artístico de uma multinacional do ramo de publicidade. Alcoólico, tinha ingressado num Grupo de A.A. em Chicago (EUA) em 1943. Em 1945 casou-se com Elizabeth Lee Treadwell, não-alcoólica que se tornaria grande amiga de A.A. Antes de viajar para o Brasil esteve na Fundação do Alcoólico em Nova York, para se informar se poderia encontrar algum membro de A.A. por aqui. Deram-lhe o nome de Lynn Goodale, a quem Bob Valentine – um amigo de Bill W., teria abordado numa passagem pelo Rio em 1945 e alcançado a sobriedade. Não encontrando Lynn, comunicou à Fundação, pediu outros nomes e colocou-se à disposição para servir como contato no País.

Em julho de 1947, recebeu o endereço de um AA, e alguns libretos e folhetos em espanhol. Numa carta recebida em outubro, a Fundação “manifesta sua felicidade pelo início de um Grupo de A.A. no Brasil”. Não havendo registro do acontecido entre os meses de julho e outubro de 1947, a JUNAAB considera como oficial, para efeito de datação, uma ata escrita no livro de registros do Grupo “A.A. do Rio de Janeiro” onde consta:

“Data – aniversário.

Na reunião de hoje deliberamos comemorar o 3º (terceiro) aniversário da fundação do Gr. “A.A. do Rio de Janeirono dia 5 (cinco) próximo.

A referida data ficará, por tradição, como a data oficial da fundação do Grupo.

Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1950

“Fernando, secretário”.

Em função disto, o dia cinco de setembro de 1947, passou a ser a data oficial da fundação do primeiro Grupo de A.A. no Brasil. Sabe-se que o Grupo também se chamou “A.A.. Rio Nucleus” e os primeiros membros reuniam-se nas casas de alguns deles. A partir de 1949, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), à Rua Araújo Porto Alegre, 71, Castelo. Mais tarde se mudariam para a Rua Santa Luzia.

No início de 1948, Herb conseguiu publicar o primeiro de uma serie de artigos sobre o alcoolismo, primeiro no jornal “O Globo” e depois no “Brazil Herald” em língua inglesa. Como resultado dessa publicidade, um morador de Ingá em Niterói, Kenneth W., pediu ajuda para assistir seu irmão arruinado pela bebida, o contabilista e consultor de empresas Harold Ryne Waddell (#), anglo-brasileiro, neto de ingleses, nascido em Santa Teresa no Rio de Janeiro; na manhã do dia 13 de março de 1948, Herb foi visitar Harold na casa de Kenneth onde morava de favor e lá o esperava com a mão direita muito tremula, estendida, enquanto a mão esquerda segurava com força um copo de cachaça. Deste encontro saiu um acordo segundo o qual Harold tentaria parar de beber substituindo os goles de cachaça que fosse tomando por água da bica até que o copo contive-se apenas água; conseguindo isso, que traduzisse o panfleto de A.A., que lhe estava deixando, do inglês para o português. Então, na próxima quarta feira à tarde, ir a novo encontro com Herb no salão de café na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Na data marcada bebeu de manhã o que seria seu último gole, e à tarde cumpriu o prometido, embora não tivesse traduzido o folheto inteiro. Harold foi um dos maiores divulgadores de A.A. e o responsável direto pela primeira mensagem de A.A. em São Paulo em 1949. Em 1965, morando na capital paulista foi padrinho e mentor de Donald M. Lazo, co-fundador do Gr. Sapiens, o primeiro Grupo de A.A. em São Paulo.

Em 1949, o Grupo já contava com doze membros, a maioria brasileiros, também conhecidos como Os Doze Desidratados. Pouco antes de Herb voltar em junho para os EUA, findado o contrato de trabalho, chegou Eleanor, que havia ingressado na Irmandade nos EUA e era mulher de um Almirante da Marinha americana a serviço no Brasil e que seria de grande valia nas traduções e na correspondência com o Escritório de Nova York, além de ter sido a primeira mulher AA no Brasil. O Grupo Reunia-se todas as segundas feiras numa pequena sala da Associação Cristã de Moços (ACM).

Em 8 de dezembro de 1952, foram registrados os Estatutos da Irmandade no Brasil e a sigla A.A. Foi fundado o Grupo Central do Brasil, que durante aquela década centralizou as atividades de A.A. no País. Instituiu-se a sacola da Sétima Tradição.

Em 1956, havia de treze Grupos brasileiros registrados no catálogo mundial. Em 1966, Donald M. Lazo, AA de São Paulo, entrou em contato com o GSO (Escritório de Serviços Gerais em Nova York), oferecendo-se para traduzir o livro “Alcoholics Annonymous” para o português; foi autorizado a traduzir 11 Capítulos sob algumas condições, entre elas:

1. Que fosse instalado no Brasil um Centro de Distribuição de Literatura (operacional);

2. Que quando fosse criado o Escritório de Serviços Gerais de A.A. no Brasil, o Centro de Distribuição de Literatura passasse a se constituir parte integrante daquela organização de serviços;

3. Advertência expressa no livro de que os direitos autorais pertencem ao A.A.W.S. (A.A. World Services, Inc. - Serviços Mundiais de A.A.), e proteção integral quanto ao citado direito.

Em fins de 1968 existiam no Brasil cerca de 90 Grupos. O livro Alcoólicos Anônimos ou, “Livro Azul”, como aqui passou a ser conhecido, foi publicação em novembro de 1969. O atendimento às condições impostas para a concretização do empreendimento para a publicação do “Livro Azul”, fez com que a Estrutura de Serviços no Brasil decola-se baseada em três itens:

1. Fundação em 29 de setembro de 1969, em São Paulo, do Centro de Distribuição de Literatura de A.A. para o Brasil  - CLAAB, Sociedade Civil de natureza literária, cuja primeira diretoria foi formada por Donald, Nascimento, César, Vasco Dias, Melinho, Fernando P. e José Ferreira, consultor jurídico e contábil. Em 1970, sai Fernando P. e entram Eloy, Cecília (do Rio) e Ana Maria – primeira servidora não-alcoólica.

2. Fundação em 20 de junho de 1971, no Rio de Janeiro, do primeiro Escritório Nacional de Serviços de A.A. – ENSAA

3. Realização do Primeiro Conclave Nacional em São Paulo, no carnaval de 1974, quando o CLAAB passou a exercer as funções de Escritório de Serviços Gerais, após o ENSAA do Rio de Janeiro encerrar suas atividades.

Esses acontecimentos serviram de ponto de partida para o extraordinário crescimento da Irmandade; em 1975 existiam no Brasil mais de 500 Grupos.

Em 29 de fevereiro de 1976, durante o Terceiro Conclave Nacional, em São Paulo, reuniramse os membros do Conselho Diretor do CLAAB e 29 Delegados representando 16 estados, e criaram a Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil JUNAAB. O Estatuto dispunha que seriam Órgãos da JUNAAB, uma Assembléia Geral, uma Diretoria e o CLAAB. Assim, A.A. no Brasil credenciava-se a enviar dois representantes para a 4ª Reunião Mundial de Serviços, em Nova York, em outubro desse ano.

Nos dias 5 e seis de abril de 1977, realizou-se em Recife (PE) a Primeira Conferência de Serviços Gerais CSG. Recomendou-se que o Conclave Nacional de A.A. – a partir do VI em 1980, realizado em Porto Alegre, seria denominada Convenção Nacional de A.A., fosse realizado a cada dois anos, e a Conferência de Serviços Gerais anualmente.

Na 5ª Conferência de Serviços Gerais realizada entre os dias 16 e 18 de março de 1981 na cidade de São Paulo, foi oficializado, para uso no Brasil, o emblema e o pavilhão da Irmandade tal como descritos pelos Serviços Mundiais de A.A. (ver pg. 7). O emblema substitui o existente à época no Brasil, criado pelo CLAAB, onde constava, além dos três legados oficiais de A.A. mundial, um quarto legado – Responsabilidade – e eram representados por um quadrado circunscrito no emblema original (ainda, de forma imprópria, representado por alguns Grupos e Órgãos de Serviço no Brasil). Também nesta Conferência recomendou-se o desmembramento Administrativo Financeiro e Físico do CLAAB/ESG, ficando o CLAAB apenas como distribuidor de literatura de A.A. para o Brasil, enquanto o ESG assumiria de fato os Serviços Gerais (Executivo) de A.A. em nível nacional. Em 07 de novembro de 1981 foi inaugurada a nova sede do ESG, que se desmembrou do CLAAB, constituindo Estatuto próprio, com registro no Terceiro Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas de São Paulo, sob nº 27.091, em 02/10/81, com a denominação de "Os Estatutos de Alcoólicos Anônimos do Brasil Escritório de Serviços Gerais S/C. AABESG", que funcionou à Rua Itaipu, 31, Praça da Árvore, Vila Mirandópolis, São Paulo - SP. Durante a 6ª Conferência de Serviços Gerais, realizada em Fortaleza em 1982, foi aprovado o Estatuto da JUNAAB e nele constou, pela primeira vez, legalmente instituída, a Junta de Custódios.

No ano seguinte, 1983, na 7ª Conferência, realizada em São Paulo, foram eleitos nossos primeiros Custódios, em número de nove, sendo três não alcoólicos e seis membros da Irmandade, cuja posse se deu na 8ª Conferência, em Blumenau – SC, em 1984.

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Nesta Conferência, a Junta deixa de ser Junta Nacional de Alcoólicos Anônimos do Brasil (JUNAAB), para ser Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil. Por ser difícil a pronúncia de JSGAAB, optou-se por mudar o nome e manter a sigla JUNAAB, mais fácil de pronunciar e já conhecida de todos os membros.

Com a publicação e divulgação do Manual de Serviços, em 1983, algumas Áreas iniciaram a implantação experimental da Estrutura de Serviços Gerais, resultando na participação e aceitação dos RSG´s.

Em agosto de 1985, durante a 2ª Reunião de Serviços Nacionais da JUNAAB em Baependi, MG, foi aprovado o projeto que resultaria na criação da Revista Brasileira de A.A., cujo número “Zero” foi lançado em Campo Grande, MS, em novembro desse ano. Devido a problemas técnicos e editoriais, a revista foi transferida para ser editada e publicada em Brasília, sob nova direção, com o nome de Revista Vivência. Adquiriu um formato bem menor, quase de bolso e foi instituída a assinatura anual.

Em 1986, na 10ª Conferência realizada em João Pessoa (PB), recomendou-se a sistemática das contribuições proporcionais, 60-25-15, para os Órgãos de Serviço, assim distribuídas: 60% para as Centrais Intergrupais – hoje ESLs, 25% para os Comitês de Área e 15% para a JUNAAB.

Em 1988 a Irmandade no Brasil assumiu compromissos de apadrinhamento de países africanos como Angola, Moçambique, Guiné, Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe.

Em 1990, a Revista Vivência instalou-se em Fortaleza, e a partir de 1993 passou a ser editada em São Paulo.

Em 1995 foram reformulados os Estatutos da JUNAAB, e a edição da Revista Vivência - que até então era uma empresa autônoma com diretoria própria, passou a ser responsabilidade do Comitê de Publicações Periódicas – CPP, da JUNAAB.

A partir da Conferência de Serviços Gerais de 2007 a Junta de Serviços Gerais de AA do Brasil resolveu se adequar à estrutura mundial de A.A. Nesse sentido resolveu que os nossos Delegados à Reunião de Serviço Mundial seriam também Custódios Alcoólicos. Até então nossos DRSM levavam as decisões da Junta de Custódios do AA do Brasil para a RSM, mas não participavam dessa tomada de decisões.

No ano de 2008 ficou evidente que havia necessidade um adjunto de Tesoureiro Geral, um não-alcoólico que pudesse suprir as ausências do nosso titular e assim foi criado o encargo de Custódio de Serviços Gerais não alcoólico, Tesoureiro Geral II.

Portanto a nossa atual Junta de Custódios é composta por 14 Custódios, sendo 04 não alcoólicos (Dois Nacionais: Presidente e 1º Vice-Presidente e dois de Serviços Gerais: Tesoureiro Geral I e Tesoureiro Geral II) e 10 alcoólicos, membros da Irmandade (Dois de Serviços Gerais: Secretário/a (Diretor/a Geral do ESG) e Diretor/a Financeiro/a do ESG; Seis Regionais: Custódios das Regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, Norte-I e Norte-II [Um 2º Vice-Presidente e cinco Diretores da Junta]; Dois Nacionais: Delegados à Reunião de Serviço Mundial e Diretores da Junta).

 

RESENHAS BIOGRÁFICAS: (extraídas do “Jornal da Vila”).

 

Herbert (“Herb”) Leroy Daugherty, nasceu na cidade de Findlay, Ohio, EUA, em 22 de janeiro de 1904.

Formou-se no Instituto de Tecnologia “Carnegie”, e completou o curso de artes no Instituto de Arte de Chicago. Durante muitos anos exerceu a profissão de Desenhista de Publicidade.

Entre novembro de 1942, e novembro de 1944 serviu o Exército dos EUA, apesar das condições físicas sofríveis: sofria de pressão alta e tinha tendências para a obesidade e o alcoolismo. Este assunto começou a preocupá-lo antes de seu ingresso no Exercito, após o suicídio de um colega de escritório que se atirou por uma janela do edifício em que trabalhavam; naquela ocasião, outro colega comentou: “A.A. poderia tê-lo ajudado. Herb acho que é de A.A. que você também precisa”.

Ainda no Exército, em 1943, ingressou no Grupo de A.A. de Chicago amadrinhado por Grace Cultuic, e manteve-se sóbrio pelo resto da vida. Em julho de 1945, casou-se com Elizabeth (“Libita”) Lee Treadwell.

Em 1946 assinou um contrato de trabalho de três anos com uma empresa multinacional do ramo de Publicidade para ocupar o cargo de Diretor Artístico de sua filial no Rio de Janeiro. Durante sua permanência na cidade do Rio de Janeiro, entre junho de 1946 e maio de 1949,

Herb deu sua maior contribuição para o desenvolvimento mundial da Irmandade de Alcoólicos Anônimos, cuja filosofia trousse consigo de sua terra natal.

Ao término do contrato, maio de 1949, Herb retornou aos EUA e criou sua própria agência de Publicidade em Nova York, e de lá mantinha contato constante com os Grupos do Rio. Devido a problemas respiratórios contraídos por Libita, o casal Daugherty mudou-se para o

sul e fixou residência em Fort Lauderdale, na Flórida. Em 1970, Herb começou a ter complicações cardíacas, e após várias internações e tratamento especializado em Miami, veio a falecer em 13 de fevereiro de 1973.

Conforme seu desejo, seus restos mortais foram cremados e suas cinzas espalhadas sobre as águas do Oceano Atlântico, as mesmas águas que beijam o Rio de Janeiro e toda a costa do Brasil.

 

Harold Ryne Waddell nasceu no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1905.

Filho de pais ingleses, Thomas Waddell e Lilian Caroline Waddell, fez seus primeiros estudos em Niterói, e fez o curso Comercial no “Aldridge College” e o curso de Contador no Instituto Brasileiro de Contabilidade, onde se diplomou em 1931.

Realizou-se profissionalmente trabalhando como auditor de grandes empresas, e também como profissional liberal. Publicou vários trabalhos a respeito de contabilidade.

Participou da Segunda Guerra Mundial ao lado das tropas inglesas como Sargento da arma de Infantaria.

Um dia, porém, viu-se tomado pela doença do alcoolismo. Conheceu derrotas, perdeu empregos, seu casamento foi diluído pelo álcool, até que chegou aquele sábado 13 de março de 1948, quando Herbert chegou à casa de seu irmão Kenneth.